quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Saberes e Competências ou as minhas ideias para a Total Anarquia

Isto que eu vou escrever poderá parecer-vos parvo (provavelmente é parvo) mas é fruto de alguns anos de experiência como professora e de reflexão sobre o assunto.

Penso que na nossa prática pedagógica diária temos uma enorme dificuldade em trocar os saberes (pintados com os nomes que vos derem mais jeito: conteúdos, objectivos, matérias, assuntos) pelas competências. Não me quero alongar nas razões por que isto acontece, embora consiga enumerar algumas: aprendemos assim no nosso estágio, não sabemos bem o que são competências, competências são difíceis de avaliar, no fim do dia o que importa é aquilo que os alunos realmente sabem, etc. O facto é que, chegado o final do ano, quando avaliamos o progresso dos alunos ao ano escolar seguinte, os argumentos que ouvimos são: “não sabe nada”, “não trabalhou”, “não merece”, “não tem nenhum teste positivo”.

O primeiro é, obviamente, medido relativamente aos conteúdos previsto para esse ano lectivo. Independentemente das competências que decidimos privilegiar nessa turma, no início do ano, do facto de sabermos que o ensino básico dura nove anos, quando dizemos “não sabe nada” estamos a referir-nos a conteúdos. E, se por um lado é óbvio que não podemos desenvolver competências sem trabalhar conteúdos, por outro a ideia é avaliar as competências e não os conteúdos. E porque são as competências tão importantes? Porque de entre todos nós contam-se pelos dedos os que sabem de cor a segunda lei da termodinâmica (exceptuando o pessoal de FQ) ou os que conseguem extrair uma raiz quadrada à unha (e aqui não vou abrir excepções, estes contam-se pelos dedos de uma mão). Ou seja, conteúdos que todos aprendemos no terceiro ciclo, nesta altura não os sabemos. Podem argumentar que não são conteúdos fundamentais, que não se podem comparar com saber conjugar o verbo haver ou algo assim, mas a verdade é que não há uma lista oficial (ou oficiosa, sequer) de conteúdos fundamentais. Quando dizemos que o aluno "não sabe nada", não sabe o quê ao certo? Segundo quem?

Imaginem agora que precisam da segunda lei da termodinâmica. Ou do Teorema de Pitágoras, par calcular a quantidade de rede a comprar para árvore de Natal, pode acontecer… Haverá algum, de entre nós, que não seja capaz de a encontrar e aplicar? Estou confiante que não. Creio, honestamente, que todos nós temos as competências necessárias para procurar, encontrar e aplicar qualquer dos saberes que aprendemos no ensino básico ou mesmo qualquer um dos que não aprendemos. São essas competências que precisamos de ajudar os nossos alunos a desenvolver e são essas competências que temos de verificar se eles têm, no final do ano lectivo. As questões do “não trabalhou”, “não merece”, “não tem nenhum teste positivo” serão abordados noutro dia, que isto já vai longo e ainda ninguém me pagou café este período.

Como dizem numa certa rádio: vale a pena pensar nisto...

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